Baby: diretor detalha etapas de co-produção internacional do filme até chegar em Cannes
O Centro de São Paulo inspira as criações do diretor brasileiro Marcelo Caetano há 15 anos. E foi em meio à beleza caótica da cidade que aconteceram as gravações de “Baby’. O romance queer com co-produção Brasil-França-Holanda levou sete anos para ser realizado e ganhou projeção global com sua estreia na Semana da Crítica de Cannes 2024.
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No 3º Fórum Spcine, que ocorreu entre os dias 26 e 28 de junho, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, Marcelo Caetano e Ivan Melo, respectivamente diretor e produtor do longa, detalharam como foi o processo de captação de financiamento internacional e co-produção envolvendo profissionais do Brasil, França e Holanda.
Editais e divulgação em festivais
“Baby” revela a história de Wellington (João Pedro Mariano), um jovem de 18 anos que acaba de sair de um centro de detenção e conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa de 40 anos, em um cinema no centro de São Paulo. Eles vivenciam juntos a energia vibrante da cidade, mas também suas zonas mais obscuras. O vínculo entre os dois se torna intenso, alternando entre sentimentos de amor, compromisso profissional e o desejo de segurança.
Marcelo Caetano conta que, desde que idealizou o filme, sabia que seria realizado com co-produção e financiamento internacionais.
“Conversamos sobre a importância da co-produção e que esse filme fosse concebido de uma forma internacional desde o início. Então, aproveitamos a premiação do Corpo Elétrico (primeiro longa dirigido por Marcelo) em Roterdã para levar o argumento do Baby e apresentar para algumas pessoas. A internacionalização desde o início facilita o processo do filme ser visto no mundo inteiro”.
Além de fazer a ideia do filme circular pelo mundo, era fundamental conseguir apoio nacional para garantir investimento fora do país. O primeiro passo foi o edital da SP-Cine, que contempla produções gravadas na Cidade.
"Baby" ganhou na categoria longas de baixo orçamento em 2019 e contou com apoio da São Paulo Film Commission, que forneceu suporte logístico e operacional para facilitar as filmagens na Cidade.
Esse apoio inicial foi crucial para que, posteriormente, o filme fosse co-produzido no Brasil juntamente com Telecine, Canal Brasil e Vitrine Filmes, que também assina a distribuição. Quanto aos recursos públicos, contaram com a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e o apoio do Aide Aux Cinémas Du Monde, Centre National Du Cinéma Et de L’Image Animée e do Institut Français. O Hubert Bals Fund (HBF) do Festival de Roterdã e o Netherlands Film Fund (NFF) também apoiaram.
“O primeiro dinheiro precisa vir do país da produção majoritária, tinha que vir do Brasil. Não se faz co-produção só com o interesse estrangeiro em relação ao seu filme, é importante que o país esteja à frente disso”.
Casting e produção criativa
Um dos pontos-chave na estratégia de Marcelo Caetano foi escolher co-produtores criativos.
“Eu dirijo e crio, escrevo, isso facilita muito nas adaptações para as rodadas de negócio e editais. E esse pensamento vale também para a equipe envolvida. As produtoras que escolhemos participaram de todas as etapas de roteiro, opinaram em casting. A equipe também reuniu profissionais do Brasil e dos outros países envolvidos. A técnica de som é francesa, o montador também”.
No elenco, Ricardo Teodoro, ator de 35 anos que interpreta Ronaldo em “Baby”, se tornou o quarto brasileiro a levar um prêmio de atuação em Cannes e venceu como melhor ator revelação.
Narrativa cinematográfica e temas sociopolíticos
O caminho até Cannes foi repleto de desafios e o principal deles foi se adaptar e ter uma compreensão clara das expectativas dos financiadores estrangeiros, especialmente ao lidar com diferentes perspectivas sobre o que constitui um "filme brasileiro" nos olhos do mercado internacional.
“A gente tem o hábito de fazer argumentos para editais com cara de trabalho acadêmico, destacando muito as questões sociais, os temas sociopolíticos. Mas quando se entra em concorrência, outros países que participam têm as mesmas questões. Conseguimos os financiamentos quando passamos a dar mais destaque para a narrativa cinematográfica. A gente não parou a cidade para gravar, por exemplo, e isso é muito desafiador. As cenas mantêm o barulho de fundo. Encontramos uma maneira de gravar que respeitasse a autenticidade da cidade nas telas”, explica Ivan Melo.
Sobre manter a originalidade do roteiro com tantas culturas e olhares envolvidos, Marcelo finaliza: “A desconexão com a realidade brasileira acontece, mas é preciso bater o pé e defender o que é o seu filme. É incrível participar de festivais, mas a gente quer que ele vá para o cinema, que também alcance esse lugar”.
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